Um terreno cedido pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) na década de 1990 para a construção de casas destinadas a funcionários, em Volta Redonda (RJ), está contaminado com substâncias tóxicas potencialmente cancerígenas que expõem a população local a “níveis intoleráveis de risco à saúde”, aponta laudo divulgado nesta quinta-feira pelo secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.

A reportagem é de Felipe Werneck e Heloisa Aruth Sturm e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-04-2013.

Segundo ele, pelo menos 750 dos 2.257 moradores do condomínio Volta Grande IV precisam deixar o local “imediatamente”. A decisão sobre a remoção caberá à Justiça de Volta Redonda. Em julho do ano passado, o Ministério Público do Rio, que denunciou o caso, já havia ajuizado ação solicitando a retirada dos moradores. Minc afirmou que a empresa poderá ser multada em até R$ 50 milhões. A CSN divulgou nota em que afirma não ter conhecimento do laudo. De acordo com a empresa, foram realizados sob supervisão dos órgãos ambientais “mais de cinco amplos estudos nos últimos 13 anos a respeito do bairro Volta Grande IV e nenhum deles apontou perigo ou risco iminente à saúde dos moradores”.

Segundo Minc, o laudo foi feito pela empresa Nickol, sob encomenda da própria CSN, por determinação do governo, e complementado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea). No entanto, não abrange todo o terreno, apenas um trecho de 10 mil metros quadrados. A área onde vivem os outros 1.507 moradores ainda não foi vistoriada. Minc responsabilizou a CSN pela demora. Segundo o secretário, a contaminação atinge o solo e águas subterrâneas. Não foram realizados estudos clínicos dos moradores. Ele não soube dizer quando ocorreu o despejo de rejeitos, se antes ou depois da privatização da CSN, em 1993. O trecho contaminado fica a 200 metros do Rio Paraíba do Sul. Ao lado do condomínio há um depósito oficial de rejeitos da CSN.

Minc afirma que no bairro há concentrações de elementos cancerígenos como ascarel, benzopireno, cádmio e cromo até 90 vezes acima do máximo tolerável. “Tomei conhecimento dos dados na segunda. São apavorantes. A CSN é a vilã dessa história. Quem tem obrigação de fazer a análise é o poluidor.” Ele afirmou que, apesar das evidências apontadas pelo MP, “seria irresponsável mandar todo mundo sair sem ter certeza”. Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente obriga os Estados a fazerem um cadastro de áreas potencialmente contaminadas, mas o Rio ainda não fez. “Estamos fazendo”, disse Minc.

Placas

No condomínio, placas espalhadas por uma das principais vias denunciam que a área é um perigo à saúde. Indicam que ali não se pode cultivar plantas, usar água de poço nem fazer perfurações. No entanto, em 13% das casas são cultivadas árvores frutíferas ou hortaliças. Muitos moradores parecem não acreditar nos riscos de contaminação. “Isso já vem de muito tempo, mas ninguém provou nada. Pra mim é briga política. Isso é conversa de quem está devendo dinheiro na casa e está doido para ser indenizado”, disse o motorista Luis Carlos Carvalho Lopes. Ele mora no bloco 225 do condomínio, área apontada como mais contaminada. “Estou aqui desde o início, sempre escorreu aquela água escura quando chove, mas aqui ninguém tem problema de saúde”, disse ele, que mora há 14 anos no local, com a esposa e o filho de 4 anos. “Ficar doente eu fico, minha filha fica, mas associar isso à contaminação? Aí já é demais”, disse outro morador, que preferiu não se identificar. O pedido de omissão dos nomes foi constante, já que praticamente todos têm, de alguma forma, vínculos com a CSN.

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