Em todo o mercado brasileiro de gerenciamento de áreas contaminadas, já está se formando um consenso que o diagnóstico da área, ou seja, a investigação, é a etapa fundamental dos trabalhos. Porém, mesmo que o primeiro passo – reconhecer a sua importância – tenha sido dado, não se nota um movimento expressivo de melhora na qualidade das investigações. Isso ocorre basicamente devido a três principais fatores: erros de execução, erros conceituais e abordagem equivocada.

Erros de execução são aquelas falhas na coleta de dados derivadas diretamente da falta de qualificação e da opção por menor preço: poços de monitoramento mal instalados, sem modelo conceitual prévio, amostras mal coletadas, dos pontos errados etc.

Erros conceituais são aqueles em que o responsável técnico opta por utilizar técnicas consagradas, porém, que não dão o subsídio necessário a uma boa elaboração do Modelo Conceitual do Site (MCS). Um exemplo é a utilização somente de amostragem de solo e instalação de poço de monitoramento como única forma de obtenção de todos os dados do meio físico, em vez das ferramentas de investigação geoambiental de alta resolução (na sigla em inglês, HRSC).

Os erros de abordagem requerem maior atenção. A abordagem atualmente utilizada no gerenciamento de áreas contaminadas no Brasil é a seguinte: o cliente (responsável legal) contrata uma consultoria como responsável técnico, que gerencia todo o processo, elabora os relatórios, subcontrata e/ou supervisiona outras empresas (as executoras), como laboratórios e empresas que coletam dados em campo. A consultoria normalmente possui em seu corpo técnico profissionais de grau variado de capacitação e experiência, desde profissionais com grau muito elevado de conhecimento (sênior) até iniciantes (estagiários, técnicos, auxiliares). A etapa da coleta de dados é realizada ou acompanhada pelos profissionais menos qualificados das consultorias. Esses coletam os dados em campo (geralmente com o auxílio das empresas executoras), mandam parte desses dados para os laboratórios, entregam parte a outros profissionais do escritório e seguem para outro “campo”, encerrando ali a sua participação no projeto. Os dados são tabulados, outros chegam do laboratório para, enfim, o profissional sênior elaborar o MCS, sem ter participado da etapa mais crítica do processo, que é a coleta de dados em campo. Dessa forma, a tomada de decisão é lenta, a necessidade de remobilizações é comum, o MCS é elaborado com erros, com muitas incertezas e sem conexão entre quem interpreta e quem coleta os dados.

Para minimizar esse erro de abordagem existem dois conceitos utilizados nos EUA que podem ser utilizados aqui no Brasil: a Abordagem Tríade (do inglês, Triad Approach) e a Avaliação Expedita da Área (Expedite Site Assessment – ESA).

A “Abordagem Tríade” se baseia em três pontos fundamentais: planejamento sistemático, estratégias dinâmicas de trabalho e sistema de aquisição de dados em tempo real (CRUMBLING, 2004). As empresas que trabalham com essa abordagem fazem um exaustivo planejamento antes de mobilizar as equipes de campo, conversam com todos os tomadores de decisão envolvidos, estudam com afinco as informações prévias da área, mobilizam todos os recursos necessários que permitam uma investigação em alta resolução, mobilizam seus principais profissionais sêniores para tomada de decisão em campo, constroem e aperfeiçoam o modelo conceitual no próprio local. A tríade estabelece que a essência do trabalho é gerenciar as incertezas para tomada de decisões e se considera uma evolução na investigação de áreas contaminadas, pois leva em conta metodologias que são o estado-da-arte e o estado-da-ciência, parte do princípio que a heterogeneidade do meio é que produz o maior nível de incertezas e que a investigação deve ser “better, faster and cheaper”, ou seja, melhor, mais rápida e mais barata.

O ESA é uma metodologia que se aproxima da tríade, especialmente no 2º pilar, que é a estratégia dinâmica de trabalho. A ESA também prega a presença em campo de profissionais sênior para tomada de decisão rápida a partir de dados coletados que permitam a elaboração de um modelo conceitual sem muitas incertezas. Com a ESA, o objetivo é ter um modelo conceitual sólido, com poucas incertezas, refinado em campo, estabelecido com alta densidade de dados e de maneira rápida, com o objetivo de dar um diagnóstico preciso na área e economizar muitos recursos (especialmente tempo e dinheiro) na reabilitação da área. A principal diferença está no planejamento sistemático e na participação de todos os envolvidos (como o poder público), essenciais na tríade, mas que não são necessárias no ESA.

Em resumo, para que as remediações tenham sucesso é preciso priorizar as investigações. Mas de nada adianta essa priorização se as ferramentas utilizadas são as que não trazem as respostas necessárias, então, é preciso que sejam utilizadas ferramentas de alta resolução. Porém, o uso dessas ferramentas por si só não garante uma adequada investigação, então, é fundamental que os dados sejam interpretados por profissionais qualificados. Isso significa que o modelo conceitual deve ser construído durante a coleta de dados em alta resolução, por uma equipe multidisciplinar de profissionais sênior que tome as decisões rapidamente e em campo. Quando tivermos tudo isso, a qualidade nas investigações atingirá um nível adequado, aumentando o sucesso nas reabilitações de áreas contaminadas no Brasil.

Fonte: Pollution Engineering

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