A avaliação das metodologias de inativação e de decomposição de organoclorados pela aplicação de cinco diferentes técnicas e as avaliações técnico-econômica e ambiental das alternativas de remediação in situ são dois exemplos dos diversos temas discutidos no ‘Seminário Áreas Contaminadas’, realizado no dia 10 de dezembro no campus do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Os resultados apresentados no evento fazem parte do projeto-piloto ‘Desenvolvimento e validação de tecnologias para remediação de solo e água subterrânea contaminados com organoclorados’, executado pelo IPT e financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE).

Os organoclorados são substâncias tóxicas persistentes que acumulam-se nos tecidos dos organismos vivos, e entre eles encontra-se o hexaclorociclohexano, ou HCH. O composto começou a ser empregado como inseticida na década de 1940, mas a descoberta de sua toxicidade provocou as primeiras proibições de uso no mundo a partir de 1968 e, no Brasil, em 1985. A fim de desenvolver e validar tecnologias para remediação de áreas contaminadas com este composto, o IPT iniciou esse projeto-piloto que foi o primeiro na história da instituição a receber financiamento do Fundo de Tecnologia do BNDES, o Funtec, instrumento de apoio de aplicação direta e não reembolsável para projetos de pesquisa aplicada, desenvolvimento tecnológico e inovação em áreas de interesse nacional.

O investimento para execução total nos quatro anos do projeto foi de R$ 15,8 milhões, dos quais R$ 14,24 milhões do banco, R$ 602 mil do IPT e R$ 980 mil do contratante do projeto, o DAEE. O objeto de estudo foi um terreno pertencente ao contratante localizado na Rua Cápua, na cidade de Santo André. A área localizada no bairro Vila Metalúrgica havia sido autorizada a ser aterrada com material proveniente da escavação e retificação do córrego dos Meninos, no município de São Caetano do Sul, e sete células ocupam cerca de 10.500 metros quadrados com uma estimativa de cerca de 30 mil toneladas de solo contendo o HCH.

“O BNDES aprovou o financiamento do projeto porque a problemática dos organoclorados é de interesse nacional. E o nosso interveniente, o DAEE, tinha um problema prático, e ninguém melhor do que eles para avaliar a utilidade de nossos trabalhos e saber se o trabalho atingiria a meta”, afirma Nestor Kenji Yoshiwaka, responsável pelo Laboratório de Resíduos e Áreas Contaminadas do IPT.

O gerente setorial do BNDES, Felipe Pereira, da Área de Insumos Básicos – Departamento de Indústria Química, disse que inovar é disponibilizar um novo conceito ao mercado, e não inventar:  “É muito importante este projeto, é um dos primeiros a serem concluídos, e que a gente consiga demonstrar a todos que houve resultados”, informou Pereira. Em 2013, os focos do investimento foram nas áreas de energia, meio ambiente, eletrônica, novos materiais, química e veículos elétricos.

CINCO ALTERNATIVAS – Os estudos avaliaram o potencial de cinco tecnologias para mitigar os problemas dos passivos ambientais, que são o tratamento químico por oxidação ou solubilização, a nanorremediação, a biorremediação, a dessorção térmica e a fitorremediação, explica a pesquisadora e gerente do projeto, Sandra Lúcia de Moraes. Todas as tecnologias tiveram um desempenho técnico eficaz na redução de massa de HCH, mas o tempo de diminuição para cada tecnologia é variado e apenas a tecnologia de dessorção térmica foi aplicada durante tempo suficiente para a redução de 100% do contaminante, mostrando-se a mais eficaz.

O cálculo dos custos para a remediação em relação à avaliação técnico-econômica das tecnologias foi executado a partir da criação de um modelo que considerou as etapas de montagem, operação, descomissionamento e monitoramento para uma célula com volume de solo contaminado de 2.196 metros cúbicos. Os resultados mostraram que o custo da técnica de oxidação com o uso do permanganato de potássio foi o mais baixo, porém o menos eficiente, e a técnica de dessorção térmica a 170ºC foi a mais eficiente, mas com o segundo maior custo entre todas.

Tomar a decisão para o melhor plano de intervenção foi o tema apresentado pela pesquisadora Cláudia Echevenguá Teixeira. Os fatores-chave para a escolha entre as diversas alternativas de remedição devem considerar o gerenciamento de risco, o desenvolvimento sustentável, a adequação à viabilidade técnica, a relação custo-benefício, a satisfação das partes envolvidas e os dirigentes do projeto. O projeto-piloto trabalhou com quatro indicadores de desempenho das tecnologias para a tomada de decisão, que são eficácia em função do risco (atingir a concentração máxima aceitável, a CMA, para não ocorrer risco de contaminação), a eficiência (razão entre a eficácia e o tempo), os custos e a carga ambiental dentro da metodologia, ou seja, a avaliação do ciclo de vida. A dessorção térmica mostrou-se a mais eficaz e a mais eficiente, a biorremediação teve o menor custo e o impacto ambiental da nanorremediação foi o mais alto entre as alternativas.

EQUIPAMENTOS EM AÇÃO – Equipes de pesquisadores e técnicos do IPT fizeram demonstrações de equipamentos e métodos inovadores na área externa ao prédio em que foi realizado o seminário. Para a coleta de amostras de solo, o Geoprobe é um equipamento que atende requisitos técnicos previstos em normas nacionais e internacionais para perfuração de poços, sondagens e obtenção de amostras de solo destinadas a análises físico-químicas.

A van denominada ‘Unidade Móvel – Avaliação de Resíduos e Poluição do Solo’, equipada com um membrane interface probe (MIP), ferramenta capaz de qualificar e quantificar certos contaminantes presentes na área em estudo. Segundo a pesquisadora Giulliana Mondelli, o equipamento permite a caracterização do perfil estratigráfico e geoambiental do subsolo: “Com a MIP podemos utilizar uma sonda que aquece o solo a até 120ºC, volatilizando os contaminantes e detectando sua presença em tempo real. O equipamento indica o local ideal para a coleta das amostras, o que torna mais rápidas as análises laboratoriais e diminui custos – ganhamos em qualidade e eficiência”, afirma ela. Como o conjunto de aparelhos é sensível e de alta complexidade, incluindo cromatógrafos e coletores analíticos, Giulliana destaca a importância da qualificação do pessoal de campo.

A unidade móvel permite também que todos os cuidados para realizar uma investigação geoambiental sejam tomados, como limpeza adequada de equipamentos e conservação de amostras de solo e resíduos obtidos em temperaturas adequadas.

O assistente de pesquisa Alexandre Muselli demonstrou o Sistema Móvel de Tratamento de Poluentes, destinado à injeção de oxidantes e redutores no solo e águas contaminadas, visando à redução de massa de contaminantes. O sistema desenvolvido pelo IPT é totalmente automatizado e é inédito no Brasil, tendo sido objeto de pedido de patente junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).

Fonte: IPT

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